22 de dezembro de 2024

Obesidade mórbida e a importância da mudança de mentalidade

Confira artigo do Dr. Marcel Vella Nunes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica, que fala sobre o panorama da obesidade mórbida no Brasil


Por Redacao 019 Agora Publicado 27/07/2020
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A obesidade integra o grupo de doenças crônicas não-transmissíveis, sendo caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, o que acarreta prejuízos à saúde.

A sua causa é multifatorial, ou seja, envolve diversos aspectos ambientais e genéticos. Hábitos de vida como o sedentarismo e os excessos na alimentação são alguns deles, assim como a predisposição genética para o acúmulo de gordura.

Atualmente, a obesidade é um problema de saúde pública em todo o mundo. O número de pessoas acometidas aumentou rapidamente nos últimos anos, inclusive no Brasil. Segundo estudo divulgado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em outubro de 2019, mais de um quinto da população brasileira é obesa.

A obesidade é dividida em graus de acordo com o IMC (Índice de Massa Corporal), que leva em consideração a altura e o peso. A obesidade grau III, ou mórbida, é a forma mais grave da doença.

Panorama sobre a obesidade no Brasil

Como falamos, a obesidade é o excesso de peso devido ao acúmulo demasiado de gordura corporal. O seu grau de classificação pode ser calculado através do IMC, método mais amplamente aceito e utilizado como medida. Essa é a relação matemática entre o peso corporal e a estatura, em que o peso (em quilogramas) é dividido pela altura (em metros) elevada ao quadrado.

A pessoa é considerada obesa quando o seu IMC é maior ou igual a 30 Kg/m2. Dessa forma, é possível classificá-la em:

  • Grau I: IMC entre 30 e 34,9;
  • Grau II: IMC entre 35 e 39,9
  • Grau III (obesidade mórbida): IMC acima de 40.

No Brasil, um estudo publicado em 2019, feito com base nos dados da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) demonstrou que mais da metade da população brasileira está acima do peso. Sem dúvidas, esse é um grande fator de risco, visto que a perpetuação de hábitos ruins pode levar uma pessoa ao aumento do IMC e, consequentemente, à obesidade.

Além disso, a obesidade atinge uma a cada cinco pessoas no Brasil. Dados do Ministério da Saúde demonstram que, em dez anos, a população obesa no país aumentou 7,1%, passando de 11,8% em 2006 para 18,9% em 2016.
Dados sobre a obesidade mórbida no País

No Brasil, estima-se que entre 0,5 a 1% da população tenha obesidade mórbida, ou grau III. Essa porcentagem, no entanto, já foi menos expressiva. A partir da década de 1970 até atualmente, estima-se que o número de obesos mórbidos aumentou 255% no Brasil.

Em nível de comparação, nos Estados Unidos a prevalência de obesidade grau III corresponde a 4,7% da população. Porém, nos EUA há um número maior de estudos que acompanham a obesidade. No Brasil, o Dr Marcel explica que ainda existem poucos dados concretos sobre o tema.


Qual a importância da mudança de mentalidade

Na maioria dos casos, o desenvolvimento da obesidade é resultante de múltiplas causas, incluindo hábitos e comportamentos de vida, predisposição genética e aspectos sociais. Esses fatores se combinam de forma diferente em cada pessoa, o que pode acarretar obesidade mórbida. No entanto, existe uma minoria de casos que são determinados pela genética, devido a mutações em genes definidos. Nesses casos, mesmo que a pessoa sempre tenha tido hábitos saudáveis, a obesidade ocorre.

Entre as principais causas estão a ingestão exagerada de alimentos, devido aos distúrbios alimentares, como a compulsão e a pouca ou nenhuma atividade física. Assim, é preciso entender qual é a relação com a comida e porque ela não está equilibrada, a fim de mudar as motivações que levam a pessoa a ingerir alimentos. A mudança de mentalidade quanto ao sedentarismo, como trabalhar a motivação, também é importante.

Além disso, quadros psicológicos e psiquiátricos descompensados (como a ansiedade e a depressão) também podem ser uma causa importante de obesidade. Dessa forma, além de adotar hábitos de vida saudáveis, como aderir à prática de atividades físicas rotineiramente, ter uma alimentação equilibrada e dormir o suficiente, quem deseja sair da obesidade também precisa cuidar da saúde psicológica. Mudar a rotina não é uma tarefa fácil, mas ela se torna mais simples e eficaz com o acompanhamento dos profissionais corretos.


Quais são os tratamentos oferecidos para a obesidade mórbida

É preciso ter em mente que uma doença complexa, com inúmeras causas, não pode ser tratada de uma única forma. Para alguns casos é indicado, sim, o uso de medicações, seja para inibir o apetite ou para diminuir a absorção de gorduras. No entanto, também é preciso ter o acompanhamento de um nutricionista, de um educador físico, de um psicólogo e, para algumas pessoas, de um psiquiatra.

Afinal, os quadros psicológicos que têm relação com a alimentação precisam ser sanados para que se obtenha sucesso no tratamento da obesidade. A compulsão alimentar, um tipo de transtorno alimentar, ocorre quando a pessoa sente a necessidade de comer mesmo sem fome.

O mesmo se aplica aos quadros de ansiedade, em que o paciente aplaca o sentimento de angústia com a ingestão exagerada de alimentos. Em ambos os casos, é preciso primeiro tratar a mente, e depois a obesidade.

Também existem casos que além do tratamento clínico pode ser necessário uma cirurgia. Nesse caso, existem critérios específicos para optar pela cirurgia bariátrica. No entanto, é fundamental entender que, se os hábitos alimentares e os problemas psicológicos não forem tratados, o resultado da cirurgia bariátrica será perdido.

Afinal, se houver grande ingesta de alimentos o estômago dilata, ficando com a capacidade anterior à cirurgia. Existem estudos que demonstram a recidiva, ou seja, após cerca de 2 anos todo o peso é recuperado, visto que o paciente não foi acompanhado por uma equipe multidisciplinar. Para um tratamento efetivo, o trabalho dos profissionais deve começar no preparatório para a cirurgia e continuar após a perda de tempo, em longo prazo.

Fonte: Dr. Marcel Vella Nunes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica