Criar uma criança é sempre uma tarefa difícil para os pais e muitas dúvidas surgem durante o processo. Todos querem que os seus filhos se desenvolvam o melhor possível e, para tal, existem estratégias. O neurocientista com graduação em neurociência aplicada à aprendizagem Fabiano de Abreu, diz que a criança pode ser estimulada desde o nascimento.
“Sabemos que os primeiros anos do ciclo vital humano, são os mais importantes para o desenvolvimento e formação da circuitaria neuronal, todos nós nascemos em condições similares. Contudo, a forma como os pais estimulam a cognição nesse início de vida, pode fazer toda a diferença. A teoria que cada criança nasce com as suas capacidades estabelecidas já foi rebatida e hoje, sabe-se que os pais são fundamentais para criar as bases do seu desenvolvimento emocional e intelectual, assim como as circunstâncias e as experiências disponibilizadas começando na gestação.”, explica.
Abreu refere ainda que a inteligência se forma em potencial e, por essa razão, pode e deve ser estimulada de forma a melhorar. Ao mesmo tempo é extremamente importante não descurar a inteligência emocional da criança.
“As crianças vão além da hereditariedade, produto da formação e informação que lhes é ofertada pelo código genético. É por esta razão que, enquanto especialista, refiro sempre a importância de compreender que a inteligência não deve ser vista como algo fixo, mas sim, como algo ativo que tem sempre potencial para melhorar, ou seja, a inteligência é uma habilidade mental. Além da preocupação com o desenvolvimento intelectual, há que se ter em conta a evolução emocional da criança para que ela seja um adulto autorresponsável em sua própria existência.”, refere o neurocientista.
Para Abreu, as crianças devem seguir um caminho em que são livres de explorar mas sempre com a noção de responsabilidade presente. Os pais devem ser ao mesmo tempo um amparo mas também um estímulo, devem dar mas também fazer saber que querem receber e esperam algo da criança.
“É importante trilhar um caminho seguro para as crianças, desde logo dotá-las de capacidades de socialização. Este aspecto é fundamental e por essa razão, deve começar em estágios iniciais da sua vida. Ensinar a enfrentar suas frustrações, desafios e problemas diários. Estimular a escuta, utilizando o diálogo como ferramenta de resolução de conflitos, mesmo com crianças de tenra idade será uma boa plataforma para ser um adulto de sucesso no futuro. Assim como estabelecer e ensinar quando devem partilhar os seus pertences e informação, começando desde cedo a construir segurança sobre as suas escolhas e responsabilidade sobre as consequências delas.”, frisa.
“É, portanto, basilar que os pais lhes concedam as coordenadas, mas os deixem trilhar o caminho. Ser super protetor pode retirar habilidades dos pequenos, que contarão sempre com a resolução por parte dos mais velhos. Tornando-se dependentes e inseguros. Contudo, é importante que na medida certa os filhos compreendam que existem algumas expectativas depositadas neles. Crianças serão mais realizadas se souberem que têm algo a conquistar. No entanto, as expectativas não devem concentrar-se na sua inteligência, nem no reforço positivo constante das suas capacidades uma vez que, esse comportamento pode de fato levar a um desempenho inferior ao esperado. Normalizar elogios, retira a importância das conquistas.”, refere Fabiano de Abreu.
Há sempre estratégias alternativas que os pais podem adotar.
“Como estratégia parental alternativa, os pais são encorajados a oferecer elogios que se concentrem no esforço que as crianças gastam para ultrapassar problemas e desafios, demonstrando coragem, persistência e determinação. Temos portanto, uma educação centrada na perseverança , resistência e capacidade de suplantar os problemas e não tanto nas capacidades inatas demonstradas pela criança. Muitos especialistas em desenvolvimento infantil concentram-se agora menos em medir o QI de uma criança e mais em ajudá-las a atingir o seu pleno potencial intelectual – mas sem acrescentar demasiada pressão. Um adulto é apenas uma criança que cresceu. Se esta criança receber o fomento adequado para o desenvolvimento de forma integral, cognição e emocional, certamente será um adulto com autonomia, independência e competência para se apropriar de sua existência.”, concluí.