#Nãotemgraça, decretou a hashtag da Guarda Civil espanhola numa rede social. Mas muita gente riu.
Tantas vezes o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, repetiu que passear com o cachorro “ou o animal de estimação” pode, que a população se animou.
O anúncio oficial da quarentena foi em 14 de março, e logo saíram a passear com cabras, na Catalunha, galinhas, nas ilhas Canárias, e, na Gran Via de Bilbao, um cidadão levava pela coleira um… “caranguejo”.
Mais precisamente uma centolla europeia da espécie Maja squinado, que chega a 20 centímetros de diâmetro, corrigiu um internauta, e logo surgiram vídeos para provar que a cena era real.
A criatividade -ou provocação, para quem pergunta “humor numa horas destas?”- foi ao limite na Andaluzia, onde um cavalheiro de sobretudo e chapéu de feltro saiu puxando seu peixe num aquário sobre rodinhas.
Já na Galícia foi imposto um limite às gracinhas: virou caso de polícia um post que oferecia o cachorro para quem precisasse de álibi para sair à rua, em La Corunha.
Em Múrcia, os guardas esclareceram por escrito: “O estado de alarme permite o passeio de mascotes acompanhadas de uma pessoa, sempre em passeios curtos, para fazer suas necessidades. Os que têm complexo de Tyrannsaurus rex não estão contemplados”.
Flagrado por uma patrulha, o murciano que saíra para jogar o lixo foi parado e recebeu ordem de voltar para casa. O que ele fez. Sempre fantasiado.
Mas que não se acuse de falta de humor toda autoridade espanhola. O policial Raimundo, das Astúrias, virou estrela das noites de Norenha elogiando o povo no alto-falante, pedindo palmas como um animador de auditório, tocando música e, para as gargalhadas das crianças, lendo uma carta de apoio escrita pelo personagem Pikachu, do desenho “Pokémon”.
Em Mallorca, o show fardado teve canja profissional. O quinteto que durante três horas percorreu todas as ruas de Algaida tocando violão, cantando e dançando no sábado retrasado (21) era liderado pelo agente Pedro Adrover, que atua no grupo local Ses Bubotes.
Investidos de poder para desmanchar grupos, fiscalizar distâncias e mandar as pessoas para casa em tempos de coronavírus, policiais procuraram alternativas para o novo papel.
No Reino Unido, o protocolo tem quatro passos para convencer os “coronacéticos”, que não são poucos.
Pesquisa feita na semana passada pelo J.L.Partners mostrou que 6% da população ainda estava apertando as mãos e se abraçando e 8%, saindo de casa sem necessidade.
São 5,8 milhões de britânicos que os policiais pretendem abordar primeiro com uma conversa amigável.
Se argumentos não resolverem, virá multa de 30 libras (R$ 240). Renitentes poderão ser escoltados até suas casas com “força razoável” e, em último caso, processados.
O protocolo não resolve o problema dos 5% dos britânicos (2,6 milhões) que confessaram não estar lavando as mãos, mas a polícia do Reino Unido pode se inspirar na indiana.
Num país com 22 idiomas oficiais, tropas coreografaram lições em malaiala (de Kerala, no sul), em punjabi (de Punjab, no noroeste do país), em telugo (de Andra Pradexe, no sudeste) e em tamil (de Pudukkottai, no sul) .
A pandemia foi a deixa para policiais revelarem seus dotes artísticos -alguns acompanhados por desajeitadas danças.
Agentes turcos fizeram dançar nas sacadas os moradores de Adana, e não faltou “Mariachi Loco” no México nem “Gracias a la Vida” na Colômbia.
Alguns se arrependeram, como uma tropa que dançava animada ao som do hino “YMCA”, do grupo Village People. Acessível no YouTube até a noite deste sábado, o vídeo foi retirado do ar no domingo (29).
O fato é que, com mais ou menos sorte, mais ou menos talento, moradores e policiais põem em prática conselho da astronauta italiana Samantha Cristoforetti para superar longos períodos de confinamento: “Humor ajuda muito. Seja capaz de rir das coisas”.