Oração de São Francisco de Assis
“Senhor,
Fazei de mim um instrumento de vossa Paz!
Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,
Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.
Onde houver Discórdia, que eu leve a União.
Onde houver Dúvida, que eu leve a Fé.
Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.
Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.
Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.
Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!
Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
Consolar, que ser consolado;
Compreender, que ser compreendido;
Amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
É morrendo, que se vive para a vida eterna!”
Pequeno de estatura, de caráter extrovertido, Francisco sempre nutriu no coração o desejo de realizar grandes empreendimentos; isto o induziu, com a idade de vinte anos, a partir, primeiro para a guerra entre Assis e Perugia e, depois, para a Cruzada. Filho de um rico mercante de tecidos, Pedro de Bernardone, e de uma mulher nobre provençal, Pica, nasceu em 1182 e cresceu entre a opulência da família e a vida mundana. Ao retorno da dura experiência bélica, doente e abalado, foi irreconhecível por todos. Alguma coisa, além da experiência no conflito, havia afetado profundamente a sua alma.
Ele jamais havia se esquecido das palavras recebidas em sonho, em Espoleto: “Por que te inquietas em buscar o servo em vez do Senhor?”. A sua existência tomou um novo rumo, guiado pelo constante desejo de saber para que Deus o chamasse. Oração e contemplação, no silêncio dos campos da Úmbria, levaram-no a abraçar como irmãos os leprosos e os desprezados, contra os quais sempre sentia sempre aversão e repugnância.
A voz que ouviu em Espoleto voltou a ressoar no silêncio da oração diante de um crucifixo bizantino na igrejinha abandonada de São Damião: “Francisco, vai e restaura a minha Igreja, que como vês, está em ruína”. Aquela admoestação, antes entendida como convite a reconstruir pedra por pedra a ruína da capelinha, com os anos revelou ao jovem seu pleno significado. Ele era chamado a “coisas maiores”: “renovar”, em espírito de obediência, a Igreja que, na época, era investida por divisões e heresias.
A irreprimível alegria, brotada pelo sentir-se amado e chamado pelo Pai, aumentou no jovem o desejo de viver de Providência e, em prol do Evangelho, decidiu deixar seus bens aos pobres. Era irreparável a divergência criada com o pai, Pedro de Bernardone. Este o denunciou publicamente; então, o filho declarou seu íntimo desejo de casar com a senhora Pobreza, despojando-se das suas vestes diante do Bispo Guido.
Numerosos companheiros uniram-se a Francisco, que, como ele, queriam viver o Evangelho ao pé da letra, em pobreza, castidade e obediência. Em 1209, o primeiro núcleo de “frades” foi a Roma encontrar-se com o Papa Inocêncio III, que, impressionado por “aquele pequeno jovem de olhos ardentes”, aprovou a Regra, depois confirmada definitivamente, em 1223, por Honório III.
Também Clara, uma nobre de Assis, foi atraída pelo carisma de Francisco. Ele a acolheu e deu início à segunda Ordem Franciscana “as pobres damas”, depois conhecidas como Clarissas. A seguir, fundou uma Terceira Ordem para os leigos.
O amor ardente por Cristo, expresso graciosamente com a representação do primeiro Presépio vivo, em Greccio, no Natal de 1223, levou o pobrezinho a conformar-se com Jesus e a receber, como primeiro santo da história, o sigilo dos estigmas. O “Jogral de Deus” foi testemunha da alegria da fé, aproximando do Evangelho também os não crentes e até capturando a atenção do Sultão, que o acolheu com honras na Terra Santa.
A vida de Francisco foi um constante hino de louvor ao Criador. O “Cântico do Irmão Sol”, primeira obra-prima poética da literatura italiana, – escrita quando Francisco estava enfraquecido pela doença, – é expressão da liberdade de uma alma reconciliada com Deus, em Cristo. O Santo vai ao encontro de Jesus com alegria, quando a “irmã morte” o vem visitar: era a tarde de 3 de outubro de 1226.
Francisco morreu, com 44 anos, no piso rude da Porciúncula, lugar onde recebeu o dom da “indulgência do Perdão”. Sua canonização ocorreu dois anos depois. O espírito de Francisco continua a inspirar muitos à obediência à Igreja, à promoção do diálogo entre todos, na verdade, na caridade e na tutela da Criação.
Por que São Francisco é o protetor dos animais?
Dia 4 de outubro é o dia de São Francisco de Assis, considerado protetor dos animais e padroeiro da ecologia.
Por ser um jovem de alma sensível, cheio de amor aos pobres e a Deus, soube ver o rosto de Deus espelhado na natureza, não apenas nos animais, mas em tudo que Deus criou. Essa é uma lição que precisamos aprender com São Francisco: encantar-se com tudo que Deus criou, com toda a beleza, harmonia e perfeição. Dar glória e louvor a Deus pela criação. Rezamos na Missa: “O Céu e a Terra proclamam a Vossa glória”.
“Tudo o que criastes proclama a Vossa glória”. O salmista canta com alegria: “Os Céus cantam a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra de suas mãos” (Sl 18,1). Assim, este grande santo viveu toda a sua vida de oração, meditação e louvor a Deus, contemplando a Sua obra, desde a menor formiguinha até o astro sol. No seu belo canto ao “irmão Sol com irmã Luz”, ele chama o sol e a luz de irmãos, filhos do mesmo Pai. “Irmã flor, que mal se abriu, fala do amor que não tem fim. Água irmã que nos refaz e sai do chão cantando assim: aleluia!”.
Em outra ocasião, ele amansou um lobo selvagem dizendo: “Venha aqui, irmão Lobo, mando-te da parte de Cristo, que não faças nenhum mal a mim nem a ninguém”. E quando estava no monte rezando, um pássaro lhe avisou que era a hora da oração da meia-noite. Eu penso que essa seja uma boa oportunidade para aprender o que a Igreja ensina sobre os animais. Papa Bento XVI disse, certa vez, que “a existência dos animais se limitava à sua vida na terra”, uma vez que eles não têm uma alma imortal, criada à imagem e semelhança de Deus, como a nossa alma.
O Catecismo da Igreja ensina
§2416 – “Os animais são as criaturas de Deus que os envolve com a sua solicitude providencial. Pela sua simples existência, eles o bendizem e lhe dão glória. Também a eles os homens devem carinho. Lembremos com que delicadeza os santos como São Francisco de Assis ou São Filipe Neri tratavam os animais”.
§2417 – “Deus confiou os animais à administração daquele que criou à sua imagem. É, portanto, legítimo servir-se dos animais para a alimentação e a confecção das vestes. Podem ser domesticados para ajudarem o homem em seus trabalhos e lazeres. Se permanecerem dentro dos limites razoáveis, os experimentos médicos e científicos em animais são práticas moralmente admissíveis, pois contribuem para curar ou poupar vidas humanas”.
§2418 – “É contrário à dignidade humana fazer os animais sofrerem inutilmente e desperdiçar suas vidas. É igualmente indigno gastar com eles o que deveria, prioritariamente, aliviar a miséria dos homens. Pode-se amar os animais, porém, não se deve orientar para eles o afeto devido exclusivamente às pessoas”.
Benção de São Francisco
O Senhor te abençoe e te guarde;
te mostre a sua face e tenha misericórdia de ti.
Volva para ti o seu olhar e te dê a paz.
O Senhor te abençoe!
Oração à São Francisco
São João Paulo II
Tu que tanto aproximaste Cristo da tua época,
ajuda-nos a aproximar Cristo da nossa época,
dos nossos tempos difíceis e críticos.
Ajuda-nos! Estes tempos esperam Cristo com
grandíssima ansiedade, embora de tal coisa não
se deem conta muitas pessoas da nossa época.
Não serão estes, tempos que nos preparem para
um renascimento de Cristo, para um novo Advento?
Nós, todos os dias, na oração eucarística
exprimimos a nossa expectativa, dirigida a ele só,
nosso Redentor e Salvador, a ele que é
o termo da história do homem e do mundo.
Ajuda-nos, São Francisco de Assis,
ajuda-nos a aproximar Cristo da Igreja
e do mundo de hoje.
Tu que trouxeste no teu coração os altos e baixos
dos teus contemporâneos, ajuda-nos,
com o coração vizinho ao coração do Redentor,
a abraçar as alternativas dos homens de nossa época.
Os difíceis problemas sociais, econômicos e
políticos, os problemas da cultura e da civilização
contemporânea, todos os sofrimentos do
homem de hoje, as suas dúvidas, as suas negações,
as suas debandadas, as suas tensões, os seus
complexos e suas inquietações…
Ajuda-nos a traduzir tudo isto em simples e
frutuosa linguagem do Evangelho.
Ajuda-nos a reduzir tudo a categorias evangélicas,
de maneira que possa ser Cristo
“caminho, verdade e vida” para o homem,
nosso contemporâneo.
Ladainha de São Francisco – Paráfrase
rei Walter Hugo de Almeida
Santa Virgem Imaculada,
Templo santo do Senhor,
Deus que fez em ti a glória,
de Francisco fez louvor!
São Francisco do Evangelho,
São Francisco da oração,
São Francisco do trabalho,
São Francisco, nosso irmão!
São Francisco pobrezinho,
santo e sábio no viver,
pai dos pobres deserdados,
vem teus filhos proteger.
São Francisco dos leprosos,
da pobreza de Jesus,
da pobreza de Maria,
da paixão da Santa Cruz!
São Francisco apaixonado
pelo Filho de Maria,
reverente ao sacerdote,
pelo dom da eucaristia!
São Francisco nos ensina,
Pelo verbo, pelo exemplo,
Que ao andarmos pelo mundo,
Nosso corpo é nosso templo”!
São Francisco ao Senhor Papa
quer servir filialmente,
do Menor, norma na Igreja
como pobre obediente.
São Francisco que a este mundo
deste seu justo valor,
vem louvar a Deus conosco,
pela cruz e pelo amor!
São Francisco, nossa Escola,
paraíso matinal,
pela graça transformado,
novo Adão universal!
Pobre humilde do Senhor,
De Jesus crucificado,
E da Virgem Mãe de Deus,
De um Brasil agoniado.
Defensor dos animais,
Protetor da ecologia,
Paz e Bem pelas estradas,
São Francisco da alegria!
De Franciscos e de Claras,
homem santo inspirador,
de poetas e profetas,
do Evangelho do Senhor!
Vem Francisco, vem depressa,
este mundo te deseja,
vem também, vem restaurar,
de novo esta santa Igreja!
São Francisco do começo
do Brasil inda menino,
vê teu povo sofredor,
em traçar o seu destino!
Quem foi São Francisco de Assis
Filho de Pedro e Dona Pica Bernardone, Francisco nasceu entre 1181 e 1182 , na cidade de Assis, Itália. Seu pai era um rico e próspero comerciante, que seguidamente viajava para a França, de onde trazia a maior parte de suas mercadorias.
Foi de lá também que ele trouxe sua linda e bondosa esposa, Dona Pica. Foi batizado em Santa Maria Maior (antiga catedral de São Rufino) com o nome de João (Giovanni). Mas quando Pietro Bernardone voltou de uma viagem à França, mudou de idéia e resolveu trocar o nome do filho para Francisco, prestando uma homenagem àquela terra.
Sua mãe era de origem provençal: as primeiras palavras ternas e afetuosas que o menino ouviu foram francesas. Esta língua foi gravada no seu coração: assim, afirmou o seu primeiro biógrafo, Tomás de Celano: “quando manifesta a sua alegria, canta na doce língua dos trovadores da cavalheiresca Provença”.
Segundo a maioria dos biógrafos de São Francisco, os padres de São Jorge lhe deram formação adequada e educação cristã. Mas o caráter e as qualidades melhores lhe vieram da mãe: meiga e firme, cristã fervorosa, toda dedicada à família.
Cedo, o garoto Francisco aprendeu do pai a arte do comércio que manejava com inteligência e proveito. Mas era um jovem alegre, amante da música e das festas e, com muito dinheiro para gastar, tornou-se rapidamente um ídolo entre seus companheiros. Adorava banquetes, noitadas de diversão e cantar serenatas para as belas damas de sua cidade. Enfim, Francisco era o líder da juventude de sua cidade.
Conflitos entre Feudos e Comunas
A Itália, como toda a Europa daquela época, vivia uma fase bastante conflitiva de sua história, marcada pela passagem do sistema feudal (baseado na estabilidade, na servidão e nas relações desiguais entre vassalos e suseranos) para o sistema burguês, com o surgimento das “comunas” livres (pequenas cidades), com seu comércio, artesanato e pequenas indústrias. Com o novo sistema, mudaram-se as relações. O poder dos senhores feudais passou a ser questionado e enfrentado pelos novos senhores, originários das comunas, a maioria deles constituída pelos comerciantes mais abastados, a exemplo de Pedro Bernardone. Eram freqüentes nesta época guerras e batalhas entre os senhores feudais e as emergentes comunas. São conhecidas as lutas entre “maiores”, isto é, a nobreza e os “minores”, vale dizer, a classe emergente.
Além destas lutas, havia choques entre o Imperador, como a força civil do Sacro Império, e o Papa, como chefe espiritual, misturando nesta luta os interesses, de maneira que havia uma constante guerra, ora fria ora real. E a cidade de Assis, por sua posição geográfica no entroncamento Alemanha-Roma, e por sua importância comercial, trocava constantemente de “dono”: ora no alto de sua fortaleza, a Rocca Maggiore, tremulava a bandeira do Papa, ora a do Imperador.
Como todo jovem ambicioso de sua época, Francisco desejava conquistar, além da fortuna, também a fama e o título de nobreza. Para tal, fazia-se necessário tornar-se herói em uma dessas freqüentes batalhas. No ano de 1201, incentivado por seu pai, que também ansiava pela fama e nobreza, Francisco partiu para mais uma guerra que os senhores feudais, baseados na vizinha cidade de Perúsia, haviam declarado contra a Comuna de Assis.
Durante os combates, em uma tarde de inverno, Francisco caiu prisioneiro, sendo levado para a prisão de Perúgia, onde permaneceu longos e gelados meses. Para um jovem cheio de vida como ele, a inércia da prisão deve ter sido especialmente dolorosa! Somente seu espírito alegre, seu temperamento descontraído e seu gosto pela música o salvaram do desespero. Encontrava ainda forças para reconfortar e reanimar a seus companheiros de infortúnio.
Costumava dizer, em tom de brincadeira para seus companheiros: “Como quereis, que eu fique triste, sabendo que grandes coisas me esperam? O mundo inteiro ainda falará de mim!”
Ao término de um ano foi solto da prisão, retornando para Assis, onde se entregou novamente aos saudosos divertimentos da juventude e às atividades na casa comercial de seu pai.
O Início da Conversão
O clima insalubre da prisão, agravado pelos prolongados meses de inverno, haviam-lhe enfraquecido o organismo, provocando agora uma grave enfermidade. Depois de longos meses de sofrimento, sem poder sair da cama, finalmente conseguiu melhorar.
Ao levantar-se, porém, não era mais o mesmo Francisco. Sentiu-se diferente, sem poder compreender o porquê. A verdade é que a humilhação e o sofrimento da prisão, somados ao enfraquecimento causado pela doença, provocaram profundas mudanças no jovem Francisco.
Foi o caminho que Deus escolheu para entrar mais profundamente em sua vida. Já não sentia mais prazer nas cantigas e banquetes em companhia dos amigos. Começou a perceber a leviandade dos prazeres puramente terrenos, embora ainda não buscasse a Deus. Na verdade, Francisco não nasceu santo, mas lutou muito para se tornar santo!
No livro “Francisco”, o autor Gianmaria Polidoro (Editora Vozes) lembra que entre 1202 e 1205 encontramos um Francisco inquieto. Não é apenas a consequência de uma doença longa e misteriosa. É a inquietude de quem está incerto quanto ao rumo a dar à própria vida e se põe em estado de busca. Não sabe precisamente onde quer terminar, mas sente que, ao longe, um futuro desconhecido o chama.
Foi nessa época que começou a pensar um pouco sobre a vida de cavaleiro. Era o tempo das cruzadas, das lutas especiais, dos cantos trovadorescos de Orlando de Ronscisvale. Tornar-se cavaleiro? Poderia ser uma idéia.
Mais uma guerra
Francisco havia perdido o gosto pelos prazeres mundanos, mas conservava ainda a ambição da fama. Por esse motivo, sonhava com a glória das armas e a nobreza, que se conquistavam nos campos de batalha. Por isso, aderiu prontamente ao exército que o Conde Gentile de Assis estava organizando para ajudar o Papa Inocêncio III na defesa dos interesses da Igreja. Contou para isso com a aprovação entusiasmada do pai, que vislumbrava aí a oportunidade tão longamente esperada de enobrecer sua família. Deus, porém, lhe reservava algumas surpresas …
Antes de partir, num impulso de generosidade, Francisco cedeu a um amigo mais pobre os ricos trajes e a armadura caríssima que havia preparado para si.
Partiu de Assis, entre aplausos dos assisienses, esfusiante de entusiasmo. Mas não foi longe. Já na cidade de Espoleto, ele e os companheiros pararam para pernoitar. Na hora da retomada da marcha, sintomas de febre fizeram com que Francisco não pudesse partir. Foi, então, que teve uma experiência modificante de sua vida. Pensou ter ouvido a voz do Senhor, com quem dialogou:
– Francisco, o que é mais importante, servir ao Senhor ou servir ao servo?
– Servir ao Senhor, é claro – respondeu o jovem.
– Então, por que te alistas nas fileiras do servo?
– Senhor, o que quereis que eu faça?
– Volta a Assis – lhe diz a voz – e ali te será dito.
Retorno a Assis
Desafiando os sorrisos de desdém dos vizinhos e a cólera de Pedro Bernardone, contrariado em seus projetos, Francisco retornou a Assis, dando prova da energia de seu caráter e do valor do seu ânimo, virtudes que se mostrariam valiosas mais tarde nos percalços de seu novo caminho.
Começou a longa busca e a longa espera: “O que Deus quer de mim? O que Ele quer que eu faça?” Era esse o constante questionamento de Francisco.
Sentia um vazio dentro de si, que as festas, farras, bebedeiras e guerras não conseguiam mais preencher. Estava inquieto e insatisfeito, mas não sabia bem por quê.
Em vão tentaram seus amigos atraí-lo outra vez para suas diversões, banquetes e trovas. Até o fizeram coroar, durante uma festa, como o “Rei da Juventude”, mas nada disso o comoveu. Já não era isso que o atraía. Sua busca era outra …
Para tentar desvendar os desígnios de Deus, passou a se dedicar à oração e à meditação. Percorria campos e florestas em busca de lugares mais tranquilos, em busca de respostas para suas dúvidas e inquietações. Para ele, tudo passou a ter outro sentido. Passou a enxergar as coisas com outros olhos e outro coração.
Viagem a Roma
Em busca de respostas, decidiu viajar para Roma, isso no ano de 1205. Visitou a tumba do Apóstolo São Pedro e, indignado pelo que viu, exclamou: “É uma vergonha que os homens sejam tão miseráveis com o Príncipe dos Apóstolos!” E jogou um grande punhado de moedas de ouro, contrastando com as escassas esmolas de outros fiéis menos generosos.
A seguir, trocou seus ricos trajes com os de um mendigo e fez sua primeira experiência de viver na pobreza. Voltou a Assis, à casa paterna, entregando-se ainda mais à oração e ao silêncio.
Frequenta sempre mais os ermos perto de São Damião, pequena e mal conservada igreja do campo, a meio caminho na estrada que de Assis desde para a planície, até a estrada que vai para a França.
A família e os amigos estavam preocupados com o jovem Francisco: o que lhe estaria acontecendo? Será que ainda estava em pleno juízo? Seu pai, então, não se conformava! Não era isso que ele tinha sonhado para seu filho! Indignado, forçava-o a trabalhar cada vez mais em seu estabelecimento comercial.
Era o ano de 1205!
PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONC
O beijo no leproso
Segundo o escritor Gianmaria Polidoro, em “Francisco” (Vozes), entre os anos de 1205 e 1206, não sabemos qual de dois grandes acontecimentos tenha tido a precedência na perturbação da calma eremítica de Francisco, sempre pensativo quanto ao caminho a seguir. Não foi através da meditação que descobriu a estrada certa. Encontrou-a diante de si no exato momento em que se viu envolvido por duas extraordinárias experiências que lhe abriram um horizonte excitante: o encontro com o leproso na planície de Assis e a voz do Crucifixo que lhe falou em São Damião.
Em 1206, passeando a cavalo pelas campinas de Assis, viu um leproso, que sempre lhe parecera um ser horripilante, repugnante à vista e ao olfato, cuja presença sempre lhe havia causado invencível nojo.
Mas, então, como que movido por uma força superior, apeou do cavalo, e, colocando naquelas mãos sangrentas seu dinheiro, aplicou ao leproso um beijo de amizade. Talvez a motivação para este nobre e significativo gesto tenha sido a recordação daquela frase do Evangelho: “Tudo o que fizerdes ao menor de meus irmãos, é a mim que o fazeis” (Mt 10,42).
Falando depois a respeito desse momento, ele diz: “O que antes me era amargo, mudou-se então em doçura da alma e do corpo. A partir desse momento, pude afastar-me do mundo e entregar-me a Deus”.
O Crucifixo de São Damião
Pouco depois, entrou para rezar e meditar na pequena capela de São Damião, semidestruída pelo abandono. Estava ajoelhado em oração aos pés de um crucifixo, que a piedade popular ali venerava, quando uma voz, saída do crucifixo, lhe falou: “Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas”.
Não percebendo o alcance desse chamado e vendo que aquela Igrejinha estava precisando de urgente reforma, Francisco regressou a Assis, tomou da loja paterna um grande fardo de fina fazenda e vendeu-a. Retornando, colocou o dinheiro nas mãos do sacerdote de São Damião, oferecendo-se para ajudá-lo na reconstrução da capela com suas próprias mãos. Conhecendo o caráter de Pedro Bernardone, é fácil imaginar sua cólera ao ver desfalcada sua casa comercial e perdido o seu dinheiro.
Não bastava já o desfalque que dava ao entregar gratuitamente mercadorias e alimentação para os necessitados? Agora mais essa! E Francisco teve que se esconder da fúria paterna. Certo dia saiu resolutamente a mendigar o sustento de porta em porta na cidade de Assis.
Para Bernardone isso já era demais! Como podia ele envergonhar de tal forma sua família? Se seu filho havia perdido o juízo, era necessário encarcerá-lo! Assim, Francisco experimentou mais uma vez o cativeiro, desta feita num escuro cubículo debaixo da escada da própria casa paterna. Pelo que sabemos, depois de alguns dias, movida pela compaixão, sua mãe abriu-lhe às escondidas a porta e o deixou partir livremente para seguir o seu destino.
Uma decisão corajosa
Ao final de 1206, Pedro Bernardone, convencido de que nem as razões nem a força podiam torcer o ânimo de Francisco, decidiu recorrer ao Bispo, instaurando-se um julgamento como nunca aconteceu na história de outro santo. O palco do julgamento foi a própria Praça Comunal de Assis, bem à vista de todos.
Bernardone exigiu que seu filho lhe devolvesse tudo quanto recebera dele. Francisco, ciente da sentença de Cristo: “Quem ama o seu pai ou a sua mãe mais que a Mim, não é digno de Mim” (Mt 19,29), sem vacilar um momento se despojou de tudo até ficar nu, jogou os trajes e o dinheiro aos pés de seu pai, e exclamou: “Até agora chamei de pai a Pedro Bernardone. Doravante não terei outro pai, senão o Pai Celeste”.
O Bispo, então, o acolheu, envolvendo-o com seu manto. Daquele momento em diante, cantando “Sou o arauto do Grande Rei, Jesus Cristo”, afastou-se de sua família e de seus amigos e entregou-se ao serviço dos leprosos, tratando de suas feridas, e à reconstrução das Capelas e Oratórios que cercavam a cidade.
Cada dia percorria as ruas mendigando seu pão e convidando as pessoas para que contribuíssem com pedras e trabalho na restauração das “Casas de Deus” que estavam em ruínas.
PROVÍNCIA FRANCISCANA DA IMACULADA CONCEIÇÃO DO BRASIL.
O louco de Assis
De alguns recebia apoio e incentivo. De muitos, o desprezo e a zombaria. No entender da maioria, o filho de Pedro Bernardone havia perdido completamente o juízo! E não só a garotada da cidade escarnecia dele, chamando-o de louco e outros qualificativos menos nobres.
Mais de uma vez sentiu-se tentado a voltar atrás, quando chegava à porta de seus antigos amigos; mas saía vitorioso nessas lutas entre o orgulho humano e o próprio ideal. Já alguns começaram a reconhecer nele traços do futuro santo, embora ele mesmo ainda não conhecesse claramente sua vocação.
Estava já terminando a restauração da última Igrejinha da redondeza, a capelinha de Santa Maria dos Anjos (na foto abaixo) e perguntava-se o que faria depois. O que mais lhe pediria Deus? Não havia entendido ainda que a Igreja que devia restaurar não era a de pedra, mas a própria Igreja de Cristo, enfraquecida na época pelas divisões, heresias e pelo apego de seus líderes às riquezas e ao poder. Devia ser aquele o ano de 1209.
Certo dia, Francisco escutou, durante a missa, a leitura do Evangelho: tratava-se da passagem em que Cristo instruía seus Apóstolos sobre o modo de ir pelo mundo, “sem túnicas, sem bastão, sem sandálias, sem provisões, sem dinheiro no bolso …” (Lc 9,3).
Tais palavras encontraram eco em seu coração e foram para ele como intensa luz. E exclamou, cheio de alegria: “É isso precisamente o que eu quero! É isso que desejo de todo o coração!” E sem demora começou a viver, como o faria em toda a sua vida, a pura letra do Evangelho. Repetia sempre para si e, mais tarde, também para seus companheiros: “Nossa regra de vida é viver o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo”!
Os primeiros seguidores
A partir daquele dia, Francisco iniciou sua vida de pregador itinerante, percorrendo as localidades vizinhas e pregando, em palavras simples, o Evangelho de Cristo.
Em documento algum consta que Francisco, depois de ouvir o Evangelho na Porciúncula, tenha saído à procura de seguidores. Não tinha a mínima intenção, nem mesmo a idéia, de inventar uma comunidade.
Muitos começaram, enfim, a compreender o sentido dessa vida e manifestaram o desejo de seguí-la. O primeiro foi um homem rico de Assis, Bernardo de Quintaval.
Bernardo era uma pessoa sensível à voz da consciência, mas também um homem muito prático. Inquietou-se com a vida de Francisco; no entanto, antes de se pronunciar quis estudar o homem. Convidou-o à sua casa com veneração e amizade; uma casa que, nas suas estruturas externas, pode ser vista ainda hoje na rua que leva o seu nome: Rua Bernardo de Quintavalle. Mais de uma vez convidou Francisco para visitá-lo. Depois dessas visitas, teve a certeza de que o filho de Pedro de Bernardone não era louco nem embusteiro.
Ao perguntar para Francisco: “O que devo fazer para seguir-te”?, este decidiu, como em todos os momentos decisivos de sua vida, recorrer ao Evangelho para que o próprio Cristo lhes desse a resposta.
O caminho do Evangelho
De manhã, bem cedo, foram ambos à missa. Pelo caminho juntou-se aos dois Pedro de Catânia, doutor em Direito e novo companheiro. Por três vezes abriram o livro do Evangelho, e as três respostas que encontraram foram as seguintes:
“Se queres ser perfeito, vende o que tens e dá-o aos pobres. Depois vem e segue-me” (Mt 19,21).
“Não leveis nada pelo caminho, nem bastão, nem alforge, nem uma segunda túnica…” (Lc 9,3).
“Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia e siga-me” (Mt 16,24).
“Isto é o que devemos fazer, e é o que farão todos quantos quiserem vir conosco” – exclamou Francisco, que subitamente viu brilhar uma luz sobre o caminho que ele e seus companheiros deveriam seguir. Finalmente encontrou o que por tanto tempo havia procurado! Isto aconteceu a 24 de fevereiro de 1208, dando início à fundação da Fraternidade dos Irmãos Menores.
No mesmo dia, Bernardo de Quintaval vendeu todos os seus bens e repartiu o dinheiro entre os pobres de Assis.
O primeiro sacerdote franciscano
O exemplo de Bernardo produziu frutos. O primeiro é o sacerdote Silvestre, que exclamou comovido: “Como posso eu, sacerdote e velho, ser menos generoso que estes jovens e ricos?” E, sem mais, lançou-se com eles na aventura de viver o Evangelho. Tornou-se, assim, o primeiro sacerdote da Ordem Franciscana!
Prontamente aderiram outros: Gil, um modesto lavrador que se tornaria um grande santo; Morico, dedicado ao serviço dos leprosos; Bárbaro, futuro missionário no Oriente; Sabatino, Bernardo de Viridiante, João de Constança, Ângelo, da ilustre família dos Tancredo, aparentado com reis e príncipes; Felipe, grande pregador; e muitos outros…
Juntos, formaram um grupo de mendigos voluntários (daí o adjetivo de Ordem Mendicante dado à Ordem Francicana), que trabalhavam e rezavam, cantavam e pregavam, maravilhando o povo com a novidade do Evangelho sendo vivido diante de seus próprios olhos. Algumas choupanas cobertas de folhagem, no pitoresco vale do Rivotorto, serviam-lhes de modesto abrigo.
A aprovação da Igreja
No ano de 1209, Francisco e seus seguidores viajaram até Roma para buscar a aprovação do Papa para o seu modo de vida. Mas como aquele bando de mendigos, maltrapilhos e desconhecidos seria recebido pelo severo Inocêncio III? Francisco rezava e confiava. Afinal, não era o próprio Cristo que o estava conduzindo? Por coincidência ou providência divina, encontrava-se em Roma, nessa ocasião, o Bispo de Assis, grande admirador de Francisco. Graças a ele o Papa os recebeu.
Inocêncio III ficou maravilhado com o propósito de vida daquele grupo e, especialmente, com a figura de Francisco, a clareza de sua opção e a firmeza que demonstrava. Reconheceu nele o homem que há pouco vira em sonho, segurando as colunas da Igreja de Latrão (a igreja-mãe de todas as Igrejas do mundo!), que ameaçava ruir. O Papa reconheceu que era o próprio Deus quem inspirava Francisco a viver radicalmente o Evangelho, trazendo vida nova a toda a Igreja, naquele tempo tão distanciada dos ensinamentos de Cristo! Por isso deu a seu modo de viver o Evangelho a aprovação oficial da Igreja. Autorizou Francisco e seus seguidores a pregar o Evangelho nas igrejas e fora delas e os despediu com sua bênção.
Em 1212, 18-19 de março, na noite de domingos de Ramos, a nobre Clara di Favarone foge de casa e é recebida na Porciúncula. Em 1217, no dia 5 de maio, realiza-se o Capítulo Geral de Pentecostes na Porciúncula. Primeira missão para além dos Alpes e ultramarina. É feita a instituição de províncias.
Em 1219, no outono (setembro-dezembro), Francisco vai ao acampamento do sultão do Egito, Melek-el-Kamel (1218-38), e tem “entrevista”com ele.
O movimento franciscano cresce e Francisco entrega o governo da Ordem a Frei Pedro Cattani em 1220.
Em 1224, no período de 15 de agosto a 29 de setembro, Francisco, com Frei Leão e Frei Rufino, passa no Alverne, preparando-se com uma quaresma de oração e jejum para a festa de São Miguel Arcanjo. Em setembro, tem a visão do Serafim alado e recebe os estigmas.
Seu estado de saúde piora muito a partir deste ano. Era final de agosto, em 1226, pede para ser levado à Porciúncula. Chegado à planície, lança sua bênção sobre Assis. Nos últimos dias de vida, dita o Testamento, autotestemunho de incalculável valor para a vida e os propósitos de homem tão singular.
No dia 3 de outubro, à tarde, Francisco, morreu cantando “mortem suscepit”. No domingo seguinte, 4 de outubro, é sepultado na igreja de São Jorge, na cidade de Assis, mas o cortejo fúnebre passou antes pelo mosteiro das Clarissas. No dia 16 de julho de 1228, Francisco foi canonizado.
REFERÊNCIAS
https://franciscanos.org.br/carisma/sao-francisco#1541514208205-e9957a9f-f930
https://www.vaticannews.va/pt/santo-do-dia/10/04/s–francisco-de-assis–fundador-da-ordem-franciscana–padroeiro-.html
https://formacao.cancaonova.com/igreja/santos/por-que-sao-francisco-e-o-protetor-dos-animais/