Com a pandemia do Covid-19, milhares de famílias estão vivendo um momento muito difícil: a perda de pessoas queridas. O Brasil já tem mais de 15 mil mortos. A mídia está contabilizando as vítimas, mas tem se esquecido do sofrimento de quem enterra seus parentes de forma inesperada, rápida, com pouca gente e sem contato físico.
“A boa vivência do velório e do enterro é um processo que ajuda a elaborar a perda e a realizar uma despedida. Porém, com tempo reduzido e caixão fechado, isso não acontece”, explica a psicóloga especialista em luto pela PUC-SP Bruna Borges.
Quando acontece a morte de alguém próximo, a vida se desorganiza e o velório é o primeiro passo para a vivência da perda. “O luto não elaborado é a dificuldade em compreender emocionalmente que a pessoa se foi, pode desencadear sintomas depressivos (dar continuidade com as atividades como se nada tivesse acontecido).
Os pacientes enlutados que Bruna já atendeu neste período de quarentena se queixam, com muito pesar e dor, da dificuldade que tiveram ao fazer o velório com o caixão fechado, o que dificulta a despedida do ente querido. A pouca rede de apoio, por regras de isolamento, também prejudica a ajuda e os cuidados por parte de amigos e familiares.
“Esta talvez seja uma das consequências mais dolorosas do isolamento social. As soluções tecnológicas, como os velórios on-line, são uma saída, mas ainda não estamos totalmente acostumados e não substitui a despedida presencial. Além disso, nem todos que podem ter acesso a estes recursos”, afirma Bruna Borges.
O enterro tem, sim, um significado simbólico e é importantíssimo para que a pessoa consiga ter um luto saudável. Sem a presença da família neste momento de dor, os parentes mais próximos da vítima do Covid-19 ficam sem amparo, podendo sofrer complicações psicológicas, como a depressão.
“Não podemos falar das mortes sem nos lembrarmos das pessoas que estão sofrendo pela perda, que acontece de forma tão inesperada. Isso não é vitimismo e, sim, um olhar para quem está sofrendo a perda de quem ama. Estas pessoas precisam do nosso apoio”, afirma a psicóloga Bruna Borges.