Como proteger crianças nas redes sociais
O principal deles está associado à dependência
Com as facilidades proporcionadas pela popularidade dos smartphones e pela conexão 4G, o alcance das redes sociais é cada vez maior no Brasil e no mundo. Um recente estudo do instituto norte-americano Pew Research Center apontou que o número de usuários ativos nesses ambientes em todo o mundo alcança cerca de 3,02 bilhões por mês até 2021. Esse número representa um terço da população total do planeta.
No Brasil não será diferente. Outro estudo divulgado pelo serviço de pesquisa de ofertas CupoNation revelou que o uso das redes sociais vai crescer cerca de 11% até o final de 2025 no país. Isso representaria mais de 150 milhões de pessoas usando Facebook, Instagram, LinkedIn e outros formatos de conexão social.
Apesar de tantos pontos positivos e benefícios proporcionados às pessoas, o uso das redes sociais também apresenta problemas que não são tão incomuns como se poderia pensar. O principal deles está associado à dependência. Psicólogos, psiquiatras e especialistas da saúde mental alertam que o uso das mídias sociais pode trazer consequências como qualquer dependência: ansiedade, irritabilidade, falta de autocontrole. O grupo mais afetado é principalmente os mais jovens. O aumento de casos de depressão e suicídio fez com que especialistas investigassem e identificassem que uma das causas do comportamento dos jovens é o uso excessivo de internet.
Os mecanismos de recomendação e algoritmos criados para customizar a experiência do usuário muitas vezes potencializam a exposição de crianças a esses flagelos mentais. A morte da garota escocesa de 13 anos Sophie Parkinson, em 2014, ganhou notoriedade. A jovem sofria de distúrbios mentais e sua mãe acredita que ela acabou com a própria vida influenciada por vídeos, incluindo conteúdo instrutivo sobre como se suicidar.
Desde o ano da tragédia da garota Parkinson, o acesso digital e sem filtros de jovens de todas as idades a conteúdos muitas vezes inapropriados somente se expandiu, graças à ampla difusão dos celulares e da internet móvel. O Escritório de Comunicações, órgão de regulação britânico de telecomunicações, estimou recentemente que 90% dos jovens com 12 a 15 anos têm celulares próprios. Três quartos deles têm contas em mídias sociais.
No Brasil, os atendimentos ambulatoriais e as internações no Sistema Único de Saúde ligados à depressão aumentaram 115% entre indivíduos de 15 a 29 anos de 2015 até 2018, de acordo com o Ministério da Saúde. Nesse contexto, a campanha do Setembro Amarelo é um exemplo de iniciativa para dar visibilidade ao problema, que é reconhecido como uma grave questão de saúde pública.
Reconhecer e remover
Formuladores de políticas e organizações civis propõem caminhos regulatórios mais cuidadosos para os agentes do mercado digital. A britânica Sociedade Nacional para a Prevenção da Crueldade com Crianças recomenda obrigar legalmente as empresas de tecnologias a considerar os riscos que crianças podem enfrentar ao lidar com seus produtos.
A percepção de um impacto negativo dos meios de comunicação sobre a psique infantojuvenil não é novidade. No Brasil, por exemplo, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) repudia qualquer tipo de propaganda dirigida a crianças. No campo da nutrição, a Organização Pan-Americana argumentou em relatório de 2012 que a intervenção nacional sobre a publicidade de alimentos a crianças poderia reduzir a disseminação de problemas de saúde pública, como a obesidade infantil.
Com os celulares, as mídias tornaram-se ainda mais imediatas, e as crianças já não usam a internet apenas para jogos. Nem tudo se resume a joguinhos de roleta, cozinha, vestir, restaurantes, etc. O uso das redes sociais agora é o que marca esse novo século. Recentemente, um vídeo de um jovem tirando a própria vida foi postado no Facebook. A filmagem posteriormente se espalhou para outras plataformas, incluindo TikTok, onde ficou online por dias.
Embora empresas de tecnologia como o TikTok admitam que podem adotar medidas para aumentar a proteção de usuários, muitas organizações consideram a autorregulação setorial insuficiente para conter excessos. Nesse sentido, a legislação federal alemã apelidada “Lei Facebook”, de 2017, é precursora em estipular critérios legais para a retirada de certos conteúdos ofensivos ou nocivos de empresas provedoras de serviços de comunicação digital.
Diante de pressões, as grandes empresas do ramo modificam pouco a pouco suas diretrizes de uso. Facebook anunciou a expansão de uma ferramenta automatizada para reconhecer e remover conteúdo autoagressivo e suicídio do Instagram no início desta semana, mas disse que as leis de privacidade de dados na Europa limitam o que pode fazer. Outras startups menores também estão tentando usar a tecnologia para resolver o problema.
Conversas abertas
Ruth Moss, a mãe de Sophie Parkinson, sugere que muitas vezes é fácil culpar os pais, acrescentando que a tecnologia de segurança só ajuda em circunstâncias limitadas à medida que as crianças se tornam mais independentes. “A maioria dos pais não consegue saber exatamente o que se passa no celular de seu filho adolescente e monitorar o que viu”, diz ela.
E muitos especialistas concordam que é inevitável que a maioria das crianças encontre conteúdo impróprio em algum momento, então elas precisam ganhar ‘resiliência digital’.
O psiquiatra Luan Marques, que é professor colaborador da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB), já informou ao Metrópoles que crianças devem passar um máximo diário de duas horas conectadas a telas, conforme recomendado pela Sociedade Brasileira de Pediatria. Junto a cuidados continuados de gerenciamento de tempo e de emoções, essa cautela pode promover uma educação para o bom uso das redes.
Já a Dra. Linda Papadopoulos, psicóloga que trabalha com a Internet Matters, argumenta que ‘a segurança online deve ser ensinada da mesma maneira que outras habilidades que nos mantêm seguros no mundo físico’. A Internet Matters é uma instituição sem fins lucrativos mantida desde 2014 pelos quatro maiores provedores de internet do Reino Unido. O objetivo da organização é oferecer materiais didáticos e aconselhamentos a pais e filhos sobre boas práticas de acesso à internet