A desigualdade no acesso à internet, ou digital divide, é um problema global. Mais de 40% da população mundial não tem acesso à rede. No Brasil, apesar do avanço no número de usuários de internet nos últimos anos, 47 milhões de brasileiros permanecem desconectados. A maioria deles, 45 milhões (ou 95%) estão nas classes C e D/E, conforme números da TIC Domicílios 2019.
O problema se acentuou com a pandemia, que acrescentou novos gargalos. De acordo com o estudo Acesso à Internet Residencial dos Estudantes, do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec), cerca de 6 milhões de estudantes não têm acesso à internet em suas casas. O acesso à internet, especialmente às redes sem fio, em algumas regiões do mundo é tão difícil quanto na Lua. Por isso, a agência espacial americana, NASA, está empenhada em resolver os dois desafios.
Um levantamento da National Digital Inclusion Alliance – NDIA, constatou que 33% das residências de Cleveland, no estado de Ohio, não têm acesso à banda larga. A cidade é a sede do Glenn Research Center, um dos centros de pesquisa da NASA. Assim, a Greater Cleveland Partnership (GCP), uma organização de desenvolvimento econômico, procurou a agência para ajudar a buscar soluções para as barreiras técnicas capazes de reduzir a desigualdade digital, usando a Lua para resolver um problema terrestre.
O Compass Lab da NASA passou então a usar abordagens de rede lunar para enfrentar os desafios técnicos da conectividade Wi-Fi na comunidade local. Ao comparar uma área da superfície lunar a uma área ao redor da cidade de Cleveland obteve dados interessantes.
Solução colaborativa
O estudo descobriu que conectar roteadores Wi-Fi a cerca de 20.000 postes de luz ou de outros serviços de utilidade pública era uma forma de resolver o problema de conectividade na cidade. Roteadores instalados a uma distância de, no máximo, 100 metros seria suficiente para fornecer uma velocidade de download de cerca de 7,5 megabits por segundo (Mbps) nas residências: velocidade de conexão suficiente para realizar atividades escolares, chamadas virtuais e necessárias no dia a dia, embora não seja suficiente para permitir streaming em 4K, o que demandaria a instalação em uma distância menor.
É uma alternativa colaborativa para endereçar a questão da exclusão digital e que pode ser replicada em outras regiões. O passo seguinte foi solicitar aos provedores locais propostas para colocar o modelo em prática. A análise delas servirá para determinar o plano mais eficaz para conectar os moradores.
Internet na Lua
No cenário lunar, o projeto está concentrado no acampamento base localizado no Maciço Malapert, uma grande cratera próxima ao Polo Sul da Lua. A área, que atende os requisitos da NASA quanto à incidência de sol e comunicação em linha de visada (line of sigh – LoS) com o Deep Space Network, é um lugar privilegiado para o uso de recursos locais, ou In-Situ Resource Utilization (ISRU). A exploração da superfície exigirá comunicação em alta qualidade entre os astronautas e equipamentos como módulos de aterrissagem, alojamentos, rovers e outros.
Existem algumas incógnitas sobre a conectividade Wi-Fi na lua. Embora a lua não tenha o nível de interferência encontrado em um bairro com construções e árvores, ela também não tem a vantagem da infraestrutura de energia, por exemplo. Usando a mesma abordagem baseada em postes, a NASA recomenda montar roteadores conectados a alojamentos, módulos de aterrissagem ou outros hardwares ligados à exploração espacial.
A estrutura de Wi-Fi lunar ainda é muito conceitual, mas a NASA acredita que ela será crucial para o projeto Artemis, que pretende criar a primeira colônia humana permanente em solo lunar.