Pacto Brutal: psicanalista analisa crime que chocou o país
Para a especialista assassinos de Daniella Perez tentam justificar o injustificável, um crime de ódio
Pacto Brutal, do canal HBO, revive a morte trágica da atriz Daniella Perez, trinta anos após o crime que chocou o país. A séria traz vários detalhes levantados após uma seleção criteriosa de documentos, fotos, áudios e vídeos, do acervo da autora de novelas Gloria Perez, mãe da vítima. Um crime brutal e chocante que parou o Brasil naquela segunda feira, 28 de dezembro de 1992.
PACTO BRUTAL: O ASSASSINATO DE DANIELLA PEREZ
Fatos voltam à tona e revivem a dor de uma mãe, de uma família e de toda uma nação que, acompanhou chocada o desenrolar do crime que condenou o então casal na época, Guilherme de Pádua e Paula Thomaz, a 19 anos e 6 meses de reclusão.
No entanto, após o cumprimento de um terço da pena, os assassinos da atriz foram soltos e hoje seguem suas vidas, após uma separação.
HORROR
Difícil não se emocionar e sofrer junto com Gloria, quando esta relata todo horror vivido naquele final de ano. Bem como não compartilhar da raiva e do ódio que invadiram o marido da vítima, o ator Raul Gazolla, quando ele descobre o autor do crime. Ainda assim difícil não sofrer ao descobrir que a pena dos criminosos está sendo cumprida em liberdade condicional desde 1999.
DETALHES DO CRIME
Mas como profissional de saúde mental, estudiosa da psiquê humana, posso dizer, sem sombra de dúvidas que o mais difícil é constatar que, após ter todos os detalhes do crime apresentados, onde mesmo envolto em uma constância de evidências de desequilíbrio emocional e comportamental, tanto Paula quanto Guilherme, ainda estão tendo voz em alguns lugares.
Ainda tentam justificar o injustificável. Um crime de ódio que faz com que a mãe da atriz verbalize o desejo de ter o poder mágico de recolher a filha, de volta ao seu ventre. Proteger e acolher, como pede seu instinto maternal.
PEDIDO DE PERDÃO
Guilherme de Pádua, após a divulgação do documentário, retornou à mídia e, em vídeo recente nas redes sociais, até pede perdão para a Gloria e para o marido de Daniella.
Mas é visível a necessidade de controlar ou coordenar toda a situação, através de uma fala teatral. É visível um descolamento da realidade, onde a frieza e crueldade de seus atos ainda brilham no olhar. Não existe o compartilhamento da dor e nem compaixão.
EMOÇÃO EMPÁTICA
Não se pode dizer que ele não tem emoção. Tem sim, mas não é uma emoção empática. Ele não consegue vivenciar a dor do outro, apesar de demonstrar que um erro ocorreu de fato, mas que agora a vida dele precisa seguir.
É como se ele não conseguisse alcançar a gravidade da situação em sua totalidade. É como se ele estivesse gritando (internamente) para todos: “chega, não vamos voltar nisso”. “Já foi, muitos anos já se passaram. Acabou”.
Uma demonstração total do desapego com a realidade, mapeado por traços de personalidade narcisista, com grandes marcas de comportamento narcisista.
No entanto, é preciso esclarecer que, nem todas as pessoas que possuem personalidade antisocial ou aspectos de narcisismo, cometem crimes e são capazes de matar. Dentro dessa análise, pode-se concluir a associação da perversidade e crueldade, no processo de horror ao qual foi submetida Daniella Perez.
PAULA THOMAZ
Quando entramos no universo de Paula Thomaz, então esposa de Guilherme de Pádua e ajudante no crime em questão, ficam nítidos os traços de uma personalidade Borderline pincelada pela dissimulação e obsessão da criminosa.
Paula transmite na fala, uma calmaria típica das pessoas que articulam suas estratégias e não sofrem com os resultados macabros de seus atos, mas que ao mesmo tempo, nos passa aquela impressão de que, a qualquer momento podem ser sucumbidos por um acesso de fúria incontrolável.
Seus passos são tão marcantes que, após sair da prisão, ela demonstra querer seguir os mesmos passos e ter uma vida similar à vida da atriz assassinada.
Uma perseguição doentia que não finalizou após a morte de Daniella, tanto que a mesma foi estudar na mesma faculdade, foi morar no mesmo bairro de Gloria e também explorou os desejos de que a filha se torne uma atriz, assim como a vítima.
Enfim, todo esse enredo macabro poderia ser palco de uma novela. Mas, certamente, não seria, jamais a novela que Gloria Perez gostaria de assinar ou vivenciar.
MANIPULAÇÃO, MENTIRAS, DOR E SOFRIMENTO
Uma trama recheada de manipulação, mentiras, um sofrimento intenso e a dor de uma mãe que, ainda hoje declara receio de permanecer como alvo de dois assassinos, já que para ela, as estocadas de punhal que encerraram a vida de sua filha, seriam para ela, uma vez que Guilherme estava incomodado, dentre outras coisas, com a redução de seu papel na novela.
Fato atribuído apenas a autora, mas que por vingança vitimou Daniela. E dentro de todo esse cenário de dor, restam indignações de toda uma nação que sofreu e hoje sofre ao reviver os fatos. Como, por exemplo, indignação por ver que a prisão perpétua deveria ter sido aplicada.
JOGO PERVERSO
Revolta por ver que ainda hoje, algumas mídias, insistem em dar voz a esses dois criminosos. E que o ciclo de manipulação da realidade e da construção da falsa verdade, ainda faz parte do jogo perverso, omisso, psicopático e doentio destes dois personagens que, através de seus atos covardes, tiraram a vida de uma linda moça no auge de seus sonhos e de suas realizações.
GLÓRIA PEREZ
Além de terem imputado um vazio eterno e imenso no peito de Gloria Perez. Que apesar de todo o sofrimento, tirou forças não se sabe de onde, para reunir provas, juntar pistas e clamar por justiça, como uma verdadeira detetive e leoa, durante todos esses anos, para ver os criminosos atrás das grades.
Dra. Andréa Ladislau
Psicanalista