03 de fevereiro de 2025

Menina de 2 anos morre após agressões; mãe e padrasto são presos

Criança, que morreu em Campo Grande (MS), tinha sinais de espancamento e violência sexual; pai vinha denunciando maus-tratos havia dez meses


Por Folhapress Publicado 05/02/2023
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Menina de 2 anos morre após agressões; mãe e padrasto são presos
Sophia de Jesus Ocampo, 2, foi vítima de maus-tratos e deu entrada já morta em UPA em Campo Grande (MS) – Foto: Arquivo Pessoal

A morte de Sophia de Jesus Ocampo, 2, que aconteceu na última semana em Campo Grande (MS) resultou na prisão preventiva da mãe e do padrasto da menina por homicídio qualificado por motivo fútil e estupro de vulnerável.

Sophia deu entrada já sem vida na unidade de pronto-atendimento Coronel Antonino, no centro da capital, em 26 de janeiro.

Estava com a mãe, a estudante Stephanie de Jesus da Silva, 24, que na época morava com o companheiro Christian Campoçano Leitheim, 25, padrasto da criança.

AGRESSÕES DE MÃE E PADRASTO RESULTARAM NA MORTE DA MENINA DE 2 ANOS EM CAMPO GRANDE

Ao constatarem hematomas e escoriações no corpo da criança, os profissionais de saúde acionaram a polícia. A principal suspeita é que lesões causadas por agressões da mãe e do padrasto resultaram na morte da menina.

Responsável pela defesa de Stephanie e de Chistian, a Defensoria Pública foi procurada neste sábado (4), por meio de sua assessoria de comunicação, mas não houve resposta aos questionamentos da reportagem.

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O laudo da causa morte da criança, divulgado pela Polícia Civil, aponta que ela sofreu um traumatismo na coluna e foi vítima de violência sexual não recente.

MÃE TINHA GUARDA DA CRIANÇA

Sophia se dividia entre as casas do pai e da mãe. Eles estão separados desde 2021 e a mãe tinha a guarda da criança.

O pai, Jean Carlos Ocampo, que vive um casamento homoafetivo com um novo companheiro, Igor de Andrade, teve as primeiras suspeitas de maus-tratos à criança na virada entre os anos de 2021 e 2022, quando encontrou lesões no corpo da filha.

Depois de passar dias na casa da mãe e do padrasto, Sophia foi para a casa do pai para passar a virada de ano. Mas estava com hematomas na perna, escoriações no braço e um ferimento na orelha.

PAI JÁ TINHA SUSPEITA DE MAUS-TRATOS

Na época, ele fotografou as marcas no corpo da menina e foi ao Conselho Tutelar, onde foi aconselhado a procurar a polícia. Depois, seguiu para a Delegacia Especializada de Proteção à Criança, onde registrou um boletim de ocorrência.

Na época, não foi realizado o exame de corpo delito na criança porque o IML (Instituto Médico-Legal) estava fechado. O caso chegou a ser investigado, mas a primeira denúncia foi arquivada pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul.

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Meses depois, em setembro, Sophia estava na casa da mãe quando deu entrada em uma UPA com um quadro de infecção intestinal e precisou ficar internada. Durante a internação, constatou-se uma fratura na perna dela.

Na ocasião, a mãe afirmou que a fratura resultara de uma queda da menina no banheiro. O pai, contudo, mais uma vez suspeitou de possíveis maus-tratos e acionou novamente o Conselho Tutelar e a Polícia Civil.

HISTÓRICO

Registros de atendimentos da UPA apontam que a criança passou por consultas e procedimentos ao menos 12 vezes desde outubro, incluindo atendimentos da equipe ortopédica, até dar entrada pela última vez.

O prontuário médico apontou que a criança deu entrada no hospital em 26 de janeiro já sem os sinais vitais. Apresentava lesões nos braços, nas costas, joelho e olho, bem como inchaço no ombro esquerdo e na barriga.

Também foi anotado que a vagina e o ânus da criança estavam excessivamente dilatados, destoando do padrão de normalidade, o que despertou a suspeita de que teria sido estuprada.

A equipe médica ainda constatou que a criança estava morta havia ao menos quatro horas, pois apresentava rigidez cadavérica.

Questionada pela equipe médica, a mãe negou que tivesse agredido a filha, mas disse que Sophia estava sob cuidado do padrasto. E admitiu que Christian “batia em Sophia com tapas e socos para corrigi-la”.

HOMICÍDIO QUALIFICADO POR MOTIVO FÚTIL E ESTUPRO DE VULNERÁVEL

No dia seguinte, o juiz Carlos Alberto Garcete de Almeida decretou a prisão da mãe e do padrasto de Sophia por suspeita de homicídio qualificado por motivo fútil e estupro de vulnerável.

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Na avaliação da advogada Janice Andrade, que atua em favor do pai da criança, houve omissão, portanto, sistêmica dos órgãos que deveriam servir como uma rede de proteção à criança.

“A omissão de Estado incentivou a mãe e o padrasto a aumentarem cada vez mais o grau de violência”.

A advogada disse, entretanto, esperar que a mãe e o padrasto sejam punidos com “todas as qualificadoras” pelos crimes de estuprotortura e assassinato.

Em depoimento à Polícia Civil, Stephanie afirmou, no entanto, que Sophia estava vomitando desde o dia anterior. E também tinha a barriga inchada e que ainda estava viva quando decidiu levá-la ao médico, em 26 de janeiro.

Por fim, ela acrescentou que Chistian agrediu a filha algumas vezes, sendo a última vez dois dias antes. Mas disse que ficou com medo de denunciá-lo porque ele havia ameaçado tirar a guarda da sua outra filha, fruto do relacionamento entre os dois.

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