Pequenas cidades de SP temem avanço da Covid-19
Apenas seis municípios de São Paulo –o maior deles com 5.760 habitantes– não registraram óbitos provocados pelo coronavírus desde o início da pandemia.
Em comum, elas são pouco populosas e têm apenas atendimento básico na saúde. Sem leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ou mesmo de enfermaria para longa permanência, as poucas cidades paulistas que ainda não registraram mortes por Covid-19 temem o avanço da pandemia e o consequente risco à saúde dos moradores com a aceleração de casos e mortes no país.
Apenas seis municípios de São Paulo –o maior deles com 5.760 habitantes– não registraram óbitos provocados pelo coronavírus desde o início da pandemia.
O avanço da pandemia tem feito com que esses locais criem mecanismos para tentar barrar casos da doença também com o receio de não conseguirem internações em municípios maiores, já que a maioria dos hospitais estão tomados por pacientes de Covid-19.
Espalhadas em três regiões administrativas do estado, Alvinlândia, Fernão e Lupércio, as três na região de Marília, Mariápolis e Sagres (Presidente Prudente), e Barra do Chapéu (Itapeva), somadas, têm 16.081 habitantes e 822 casos de Covid, sem nenhum óbito.
“Não temos UTI nem enfermaria e sabemos que a situação está difícil em todos os lugares”, disse o enfermeiro Eduardo Alves de Moraes, gerente de uma unidade de saúde em Sagres.
Com 75 casos, a cidade chegou a investigar uma morte em 2020 como suspeita de Covid-19, mas os exames deram negativo, segundo ele.
A cidade tem apenas unidade de saúde que atende de segunda a sexta, das 7h às 17h. Em caso de emergência, os moradores têm de recorrer a Oswaldo Cruz, cidade vizinha.
Como tentar combater o novo coronavírus? Criando barreiras sanitárias, diz ele, como outras cidades no entorno têm feito, devido à antecipação de feriados em São Paulo.
Distante 66 km de Presidente Prudente, a cidade é vinculada na saúde ao DRS (Departamento Regional de Saúde) de Marília, a 138 km. Se precisar de UTI em alguma dessas cidades, porém, poderá encontrar dificuldades.
Na quinta-feira (25), Presidente Prudente tinha 156 moradores internados, recorde desde o início da pandemia, dos quais 52 estavam em UTIs. A ocupação dos leitos intensivos chegou a 97,3%. Já Marília tinha 153 internados.
Em Mariápolis, a preocupação também é com a antecipação dos feriados na capital. “A Secretaria Municipal de Saúde pede a colaboração de todos os moradores para que evitem aglomerações e receber visitas em casa”, diz trecho de comunicado publicado pela administração.
Também sem óbitos até aqui, a cidade tem 129 casos da Covid-19 confirmados.
Alvinlândia, com 3.327 habitantes, também não tem UTI nem enfermaria para permanência de pacientes. Possui apenas quatro leitos de observação e, caso necessite de vagas, terá de recorrer ao HC (Hospital das Clínicas) de Marília, de acordo com o secretário da Saúde, Carlos Peres Martins.
“Graças a Deus Alvinlândia ainda tem suprido as necessidades aqui em Marília mesmo [sem precisar de transferência para locais distantes]”, disse.
A cidade tinha quatro pessoas internadas em Marília na tarde de sexta (26). “Estamos tendo muita sorte [de não ter óbitos].” Um dos pacientes foi extubado nos últimos dias.
Já em Lupércio, a secretária de Higiene e Saúde, Juliana Viscovini, disse que a estrutura da cidade é composta por apenas um centro de atendimento para Covid-19, que foi preparado com maca e cilindros de oxigênio para o caso de transferência de pacientes.
“Sabemos que a situação está um pouco complicada na saúde. Nós temos um paciente que está hospitalizado, mas não foi agora nesse momento mais crítico.”
Ela disse que a prefeitura tem feito busca ativa por meio dos agentes comunitários de saúde, que consiste em preencher um questionário nos domicílios sobre eventuais sintomas de síndrome gripal e orientações de rastreamento de pessoas que tiveram contato com elas. “São ações em que tivemos resultados.”
A preocupação dessas pequenas cidades em não ter condições de atender adequadamente os pacientes ocorre também em outros locais.
Uma pesquisa da CNM (Confederação Nacional dos Municípios) mostra que prefeitos de 1.300 cidades afirmam que hospitais de suas regiões não conseguirão manter os atendimentos aos pacientes mais graves nos próximos dias, entre outros motivos, pela falta do “kit intubação”.
Outras 709 prefeituras disseram que é iminente o risco de desabastecimento de oxigênio em hospitais e nos centros de atendimento de seus municípios.
Na relação do governo de São Paulo sobre casos e óbitos causados pela Covid-19, outras seis cidades figuravam com zero mortes nesta sexta-feira –Bento de Abreu, Itaoca, Lucianópolis, Redenção da Serra, São João do Pau D’Alho e Tejupá.
Elas, no entanto, já registraram óbitos provocados pelo coronavírus. Bento de Abreu tem uma morte, assim como Lucianópolis, São João do Pau D’Alho e Tejupá. Já Redenção da Serra tem dois e Itaoca registrou sete óbitos, de acordo com as prefeituras.
Isso acontece devido a defasagens entre a base de dados do governo e as das prefeituras. O mesmo ocorre em relação aos casos. Bento de Abreu tem 212, conforme a prefeitura, mas na relação do estado figura com 189 até o momento.