23 de novembro de 2024

Quando o filho vira o professor

Pai de paciente do Boldrini encontra forças no filho na luta contra o câncer


Por Redacao 019 Agora Publicado 29/07/2020
Ouvir: 00:00
Pai de paciente do Boldrini encontra forças no filho na luta contra o câncer
Ederson e o filho Gabriel sempre juntos no enfrentamento do câncer

Há cerca de três anos, o operador de máquinas Ederson Buzatto viveu o que ele descreve como “o dia mais estranho de sua vida”. Seu filho, Gabriel, na época com seis anos, foi diagnosticado com câncer e começava uma batalha contra a doença, que segundo o pai, é uma lição de vida e de amor dada pelo filho.

“O Gabriel começou a ter dor na perna esquerda. Se queixava muito, levamos ele ao hospital e nada. A dor passou. Até que uma semana depois do início da dor, eu estava fazendo uma massagem na outra perna dele e descobri um caroço. Como ele tinha uma consulta já agendada com a endocrinologista, ela mesma pediu o ultrassom. Fomos a um ortopedista depois e ele pediu uma ressonância”, lembra.

O resultado do ultrassom ficou pronto e a partir daí a vida da família mudou, que ainda conta com a filha Julia, que na época tinha 2 anos. “Era uma sexta-feira, quando minha esposa, Ivonete, levou o resultado na médica. Ela me ligou no trabalho, em outra cidade, e me pediu para ir ao hospital. Ali eu já sabia que algo estava errado. Chorei muito”, conta emocionado.

A médica explicou que o ultrassom revelou um tumor e encaminhou Gabriel ao Centro Infantil Boldrini. Contudo, era sexta-feira e o encaminhamento aconteceria só segunda. “Me lembro de ter sido um final de semana muito triste e de muito choro. Me desestabilizou. O nascimento do Gabriel foi o dia mais feliz da minha vida, mas aquele, o dia do diagnóstico, foi o pior”.

A chegada ao Boldrini

Ederson e  o filho Gabriel em sua primeira internação.
Ederson e  o filho Gabriel em sua primeira internação.

Ederson lembra que foi com a esposa e Gabriel ao Boldrini e que logo o primeiro tratamento começou. “Sessões de quimioterapia, radioterapia e uma possível cirurgia, que hoje sabemos que seria a amputação. Na época a dor já estava nas duas pernas. Me lembro de estar chorando muito e uma mãe de paciente vir me consolar, me confortar. É isso que acontece no Boldrini”, recorda.

O pai sempre fez questão de estar ao lado do filho. Conta orgulhoso que antes da doença levou Gabriel para fazer karatê e ao acompanhar as aulas, decidiu se matricular também. “Somos muito parceiros. Sempre fiz questão de estar junto a ele no tratamento. Ficar com ele nas internações à noite para ir trabalhar em Nova Odessa durante o dia. Vejo que isso não é muito comum. Normalmente são mães e avós que acompanham os filhos. Estar ao lado dele me dava forças”, explica.

A cumplicidade entre pai e filho é explícita. “No começo, ele tinha medo da injeção, de tirar sangue para os exames e eu estava lá ao lado dele, muitas vezes tendo que segurá-lo. Quando o cabelo dele começou a cair, fizemos um trato. Ele raspou a minha cabeça e eu, a dele. Queria mostrar que estava tudo bem”, recorda.

E foi a luta de Gabriel que incentivou Ederson nos momentos mais difíceis. “A primeira rodada do tratamento foram seis meses de quimio. Depois descobrimos que a metástase havia se espalhado por outros órgãos. E ele mudou o protocolo de atendimento. Hoje, o Gabriel está no terceiro tratamento, sem interrupções. Mas não perdemos a fé. Quando tudo começa, você tem uma sensação de impotência muito grande. Você nunca imagina que isso pode ou vai acontecer com o seu filho. Mas o pedido de pai e mãe para Deus tem valor e gente se apega nisso”.

Cúmplices, pai e filho rasparam a cabeça durante o tratamento de Gabriel

A rotina dos tratamentos no hospital Boldrini, segundo o pai, está sendo um ensinamento. “A gente desenvolve relação, amizade mesmo, com outros pais. Eu sempre me lembro daquela mãe que me confortou logo que chegamos ao Boldrini e busco fazer o mesmo com os novos pais. A gente conversa, dá força, faz amizade. O Gabriel também fez amigos. Um deles é o Arthur. Eles se encontram sempre. Até mesmo quando não é dia de um tomar quimio o outro pede para ir para estar junto. Com isso, nós, os pais, viramos amigos também. São histórias bonitas que se constroem lá”, conta.

Enfrentando a doença pela terceira vez, Gabriel não desanima e não deixa os pais desanimarem. “Foi um aprendizado para todos nós. Mas, com certeza, os papéis se inverteram e ele me ensina muito mais sobre a vida do que eu a ele. Eu sinto muito quando não posso estar fisicamente com ele todos os dias no hospital, mas sei que ele sabe que estou ao lado dele. Ele é um garoto muito mais forte do que eu. Ele me ensina todos os dias. O maior desejo de Dia dos Pais só pode ser um, ter ele bem conosco”, finaliza.