22 de dezembro de 2024

Síndrome de Borderline tem cura?


Por Redacao 019 Agora Publicado 09/07/2020
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Síndrome de Borderline tem cura?

O estilo de vida contemporâneo influencia relações, molda comportamentos e ações e, por consequência, as emoções podem ser abaladas. Dada a complexidade dessa situação, saber se o Transtorno Borderline tem cura ajuda a reduzir os sintomas desse tipo de transtorno da personalidade e a minimizar os impactos das mudanças comportamentais características da vida moderna.


Nessa perspectiva, dr. Marcel Vella Nunes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica irá apresentar o que é o Transtorno de Personalidade Borderline, quais são as suas principais características e como evitar que os efeitos desse distúrbio prejudiquem a qualidade de vida do paciente. Veja, ainda, como o apoio profissional é importante para aprender a lidar com as emoções e a controlar os impulsos típicos desse transtorno. Confira!

O que causa o Transtorno de Personalidade Borderline?


Também conhecido por Transtorno de Personalidade Limítrofe, pode ser causado por múltiplos fatores. Ou melhor, pela combinação de alguns deles, já que não existe ainda uma definição clara sobre o fator causal desse distúrbio.
Entretanto, a hipótese defendida pela ciência é que influências genéticas e heranças familiares quando associadas aos traumas de infância e aos fatores culturais e ambientais podem elevar consideravelmente as chances de desencadear o Transtorno de Borderline.


Isso significa que quem tem parentes próximos, como pais ou irmão com Borderline, tem mais risco de desenvolver esse problema. Além disso, o transtorno é mais comum em pessoas com histórico de traumas infantis, principalmente oriundos de lares conflituosos e com pais separados.
Igualmente importante são os traumas causados por violência doméstica, abandono ou maus tratos, ou decorrentes de abusos sexuais na infância. A exposição continuada a essas condições podem levar a mudanças estruturais no comportamento, tendo como uma possível hipótese o descontrole na liberação das substâncias que regulam as emoções.


Por isso, independentemente da certeza se Transtorno de Personalidade Borderline tem cura, é preciso buscar medidas que objetivem o controle das questões apontadas como causas desse distúrbio. A atenção e o cuidado com a saúde mental da criança são fundamentais para evitar complicações comportamentais no futuro, por exemplo.

Quais as características do Transtorno de Personalidade Borderline?

Ainda que as características possam variar bastante em função do nível de comprometimento mental da pessoa, há algumas similaridades nos portadores desse distúrbio. Vejam as mais comuns:

  • queixas recorrentes de sensação de vazio e solidão;
  • dificuldade intensa para controlar situações de raiva;
  • apresentam falas ou comportamentos suicidas recorrentes;
  • humor intenso, mas que varia bastante durante horas ou dias;
  • tendência para comportamentos autodestrutivos, como a autolesão;
  • esforços muito evidentes para evitar situações de abandono real ou mesmo imaginário;
  • sintomas claros de percepção de falta de apoio, queixas de exclusão do grupo ou de sentimentos de rejeição;
  • relações intensas, mas muito instáveis com amigo e familiares;
  • idealizam um par ideal, mas, quando se frustram, desapaixonam de modo raivoso e fulminante;
  • tendência à distorção da autoimagem, à instabilidade de humor e à baixa autoestima;
  • comportamentos impulsivos e, às vezes, exposição a práticas;
  • perigosas, como manter relação sexual desprotegida;
  • ostentação com gastos compulsivos, mesmo sem ter condição financeira estável;
  • situações comuns podem ser interpretadas como rejeições, o que se tornam razões para conflitos ou tempestades emocionais.

Transtorno de Personalidade Borderline tem cura?

Saber se o Transtorno de Personalidade Borderline tem cura pode ajudar bastante a reduzir os impactos negativos desse distúrbio sobre a qualidade de vida de quem tem a doença. O primeiro ponto importante é compreender quais são as consequências desse transtorno e, no momento oportuno, buscar formas de controle.

Ainda que a medicina não tenha evidências de que esse distúrbio possa ser curado, um processo de intervenção especializado pode amenizar os sintomas e ajudar na reabilitação do equilíbrio emocional dos pacientes. Independentemente do grau de comprometimento, é necessário submeter o indivíduo ao tratamento para evitar a evolução para complicações mais graves.

Dados de pesquisas mais recentes mostram que quando o paciente consegue se engajar em um plano de tratamento adequado é possível minimizar sintomas, retomar a sua funcionalidade e recuperar a qualidade de vida. O tempo de tratamento para alcançar esses resultados é em torno de 2 anos.

Quando não corretamente tratado, o Transtorno de Personalidade Borderline pode desencadear surtos psicóticos ou acentuar o risco de suicídio. O descontrole emocional pode gerar reações imprevisíveis, já que a pessoa com esse distúrbio tem fortes tendências a interpretações equivocadas em diversas situações. Logo, ainda que a doença não tenha cura definitiva, o controle dos sintomas é essencial ao bem-estar do paciente.

Como identificar o Transtorno de Personalidade Borderline?

Conhecer os sinais do transtorno ajuda na escolha da conduta e no direcionamento mais adequados para apoiar a quem enfrenta esse problema.
Tendo isso em vista, listamos os sintomas mais comuns e que podem ajudar os familiares e amigos na identificação desse transtorno em pessoas próximas:

  • irritabilidade;
  • impulsividade;
  • agressividade;
  • automutilação;
  • abuso de drogas;
  • isolamento social;
  • sentimentos intensos;
  • distúrbios alimentares;
  • angústia de abandono;
  • instabilidade emocional;
  • comportamentos suicidas;
  • relacionamentos instáveis;
  • desregulação afetiva excessiva;
  • transtornos de depressão e ansiedade.

Qual a importância do tratamento?

Um estudo recente publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelou um panorama muito preocupante em relação à saúde mental dos brasileiros. Problemas associados à ansiedade e à depressão aumentaram bastante na últimas décadas, principalmente nas pessoas mais jovens. Tanto que a prevalência de distúrbios mentais nos adolescentes no Brasil já ultrapassa 30%, afirma a pesquisa.

Nessas circunstâncias, a busca do tratamento para Transtorno de Personalidade Borderline é uma forma segura de minimizar os efeitos dos sinais que colocam a vida pessoal, familiar, afetiva, acadêmica e profissional em risco. Por isso, é importante priorizar o controle de desajustes emocionais associados à doença, principalmente aqueles ligados à depressão, à ansiedade e ao consumo abusivo de drogas e álcool.

O tratamento medicamentoso visa a atenuação das oscilações de humor e o tratamento das comorbidades subjacentes. A psicoterapia é de fundamental importância, bem como atividades terapêuticas ocupacionais e físicas. Um transtorno de fatores desencadeadores de múltiplas causas possíveis deve ser avaliado, diagnosticado, conduzido e tratado por uma equipe de profissionais especializados no âmbito multidisciplinar da saúde.